Wednesday, March 8, 2006

Atenção

e se uma lebre vos perguntasse qual era a vossa canção preferida do tio Tom, qual seria a vossa resposta?

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Tuesday, March 7, 2006

Sótão



Por interstícios das malas abertas de quando éramos
crianças gritam as bocas sem nenhum eco
das bonecas. Criaturas fictícias, escalpelizadas
e sem tintas, de ventre oco. Mas o mortal
lugar do coração está ainda a palpitar.
O bojo do peito de celulóide, como o meu,
pede-nos perdão pela saudade que nos devora.


Fiama Hasse Pais Brandão


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a jukebox da lebre (canção perfeita versão 1.4)

Sandy Dillon - Powder lady

Monday, March 6, 2006

mais uma traduçao caseira da minha Sexton


Estou no ringue
na cidade morta
e aperto os sapatos vermelhos.
Tudo o que estava calmo
é meu, o relógio com uma formiga a andar
os dedos dos pés alinhados como cães,
o fogão muito antes de ferver sapos,
a sala branca no inverno, muito antes das moscas,
a corça deitada no musgo muito antes da bala.
Eu aperto os sapatos vermelhos

Não são meus.
São da minha mãe.
E da mãe dela antes.
Entregues como relíquia familiar
mas escondidos como cartas vergonhosas.
A casa e a rua onde eles pertencem
estão escondidas e todas as mulheres, também,
estão escondidas

Todas as raparigas
que usaram sapatos vermelhos
cada uma embarcou um comboio que não pararia.
Estações voaram como pretendentes e não parariam.
Todas dançavam como truta num anzol.
Brincaram com elas.
Rasgaram as orelhas como alfinetes de segurança.
Os seus braços caíram e transformaram-se em chapéus.
As suas cabeças rolaram e cantaram pelas ruas.
E os seus pés - ó Deus, os seus pés no mercado -
os seus pés, aqueles dois escaravelhos, correram para a esquina.
Com certeza, exclamaram as pessoas,
com certeza que são mecânicos. Senão…

Mas os pés continuaram.
Os pés não conseguiam parar.
Estavam enroscados como uma cobra que vos vê.
Eram elásticos a puxar-se em dois.
Eram ilhas durante um terramoto.
Eram barcos a chocar e a afundar-se.
Eu e tu não importávamos.
Eles não podiam ouvir.
Eles não conseguiam parar.
O que eles fizeram era a dança da morte.

O que eles fizeram torná-los-ia.


Anne Sexton

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Sunday, March 5, 2006

Ah, não mais ter a consciência de ser, como uma pedra, como uma planta! Não recordar sequer o nome! Estendidos na erva, com as mãos cruzadas na nuca, olhar no céu azul as nuvens brancas que pairam, deslumbrantes, inchadas de sol; ouvir o vento que soa lá em cima, entre os castanheiros, do bosque com um fragor de mar.

Nuvens e vento.

O que disse? Ai de mim, ai de mim. Nuvens? Vento? E não lhe parece que é tudo, olhar e reconhecer que aquilo que paira no azul interminável e vazio são nuvens? A nuvem sabe porventura que existe? Nem a árvore nem a pedra, que se ignoram até a si mesmas, sabem que a nuvem existe; e estão sós."

Luigi Pirandello

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Thursday, March 2, 2006

a mulher que sonha esquece-se do riso
cresce como as chuvas:
de mãos estendidas para as lágrimas

ganha o gosto amargo da memória
palavras que se aprendem na primeira
cor depois da noite

faz da realidade o salto para a insónia
sabe que a memória são arvores com a raiz exposta ao vento
e de novo leva nos braços o silêncio


eue


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Wednesday, March 1, 2006

Para recuperar a beleza basta um olhar, mesmo que ferido.

Mário Rui de Oliveira

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