Tuesday, January 31, 2006

desde que te criei como um outro inverno
não fazemos mais do que noite numa
língua que ambos desconhecemos

uma história de mentiras
onde o frio se esconde
nas pausas

perdi-me
não sei se me segues pelas ruas
que inventaste para mim

há nas palavras um desabafo preso ao vento

por entre paredes onde desenhaste a dor
olhas-me
apesar do medo, não há sombras

em certos ângulos tu não existes

com esta revelação, calo-me
vejo as palavras que não podes prender
desaparecer no inverno.


eue


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Monday, January 30, 2006

Nada garante que tu existas
Não acredito que tu existas

Só necessito que tu existas

David Mourão Ferreira


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Sunday, January 29, 2006

Los amantes

Harux y Harix han decidido no levantarse más de la cama: se aman locamente, y no pueden alejarse el uno del otro más de sesenta, setenta centímetros. Así que lo mejor es quedarse en la cama, lejos de los llamados del mundo. Está todavía el teléfono, en la mesa de luz, que a veces suena interrumpiendo sus abrazos: son los parientes que llaman para saber si todo anda bien. Pero también estas llamadas telefónicas familiares se hacen cada vez más raras y lacónicas. Los amantes se levantan solamente para ir al baño, y no siempre; la cama está toda desarreglada, las sábanas gastadas, pero ellos no se dan cuenta, cada uno inmerso en la ola azul de los ojos del otro, sus miembros místicamente entrelazados.
La primera semana se alimentaron de galletitas, de las que se habían provisto abundantemente. Como se terminaron las galletitas, ahora se comen entre ellos. Anestesiados por el deseo, se arrancan grandes pedazos de carne con los dientes, entre dos besos se devoran la nariz o el dedo meñique, se beben el uno al otro la sangre; después, saciados, hacen de nuevo el amor, como pueden, y se duermen para volver a comenzar cuando despiertan. Han perdido la cuenta de los días y de las horas. No son lindos de ver, eso es cierto, ensangrentados, descuartizados, pegajosos; pero su amor está más allá de las convenciones.



Juan Rodolfo Wilcock

Saturday, January 28, 2006

Uma espécie de perda


Usámos a dois: estações do ano, livros e uma música.
As chaves, as taças de chá, o cesto do pão, lençóis de
linho e uma cama.
Um enxoval de palavras, de gestos, trazidos,
utilizados, gastos.
Cumprimos o regulamento de um prédio. Dissemos.
Fizemos. E estendemos sempre a mão.

Apaixonei-me por Invernos, por um septeto vienense e
por Verões.
Por mapas, por um ninho de montanha, uma praia e uma
cama.
Ritualizei datas, declarei promessas irrevogáveis,
idolatrei o indefinido e senti devoção perante um nada,

( - o jornal dobrado, a cinza fria, o papel com um
apontamento)

sem temores religiosos, pois a igreja era esta cama.

De olhar o mar nasceu a minha pintura inesgotável.
Da varanda podia saudar os povos, meus vizinhos.

Ao fogo da lareira, em segurança, o meu cabelo tinha a
sua cor mais intensa.
A campainha da porta era o alarme da minha alegria.

Não te perdi a ti,
perdi o mundo.


Ingeborg Bachmann


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Thursday, January 26, 2006

se o totoloto fosse com palavras em vez de números a minha chave seria esta (quase) todas as semanas:

Melancolia, gargalhadas, cor, tequila, palavras, música
Mas o que é a cidade? Que é? Tudo, até o próprio vento.
Note-se que o vento e outras coisas que nos parecem do campo, dos espaços livres, são extraordinariamente citadinos .
Passa gente a gritar na rua, a soltar aqueles apelos tão entrados na nossa vida doméstica, e é o vento, afinal, que também tem um timbre usual e que é de toda a parte, que se ouve com mais delícia. Nesta cidade de sons, o do vento é muitíssimo antigo e poético, muito particular.

Irene Lisboa



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Vício maravilha deste final de semana

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