Thursday, February 28, 2008

tradução caseira da lebre

Assaltam-nos à traição os antigos instantes
que a fotografia deteve nos seus cartões
perto de um tempo que já nos fere com as
suas mãos




María Victoria Atencia



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com a garganta cheia de sombras

(sítios que antes sublinhavam a tua ausência)



quero dizer-te que a voz é um juntar de perdas

quando neste lado da fala não há janelas para o silêncio



Fica um arrepio de insónia a escrever vazios







Maria Sousa





Wednesday, February 27, 2008

No murmúrio apagado
desta noite,
no balançar cansado
de serões preenchidos,
acompanhados,
invoco o estado puro de solidão.
E desejo a sala vazia,
o quarto silencioso,
o acenar mudo
de fantasmas inventados...
Porque é no respirar só
que as palavras se levantam;
Porque é no adormecer só
que os sonhos fluem;
E porque amar
é amar só.



Filipa Leal


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words don't come easy to me

a m'nina sem-se-ver passou-me a corrente bonita das 12 palavras que mais gosto, ora aqui vai desta

gargalhada
papoila
caramelo
bola de berlim
soalheiro
noite
café
beldroegas
tequila
sussurro
violeta
pássaro


passo esta corrente à menina ana... à menina franksy e à menina couve-flor

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Tuesday, February 26, 2008

Monday, February 25, 2008

Já não te amo como no primeiro dia. Já não te amo.

No entanto continuam em volta dos teus olhos, sempre, estas imensidades que rodeiam o olhar e esta existência que te anima no sono.

Continua também esta exaltação que me vem por não saber o que fazer disto, deste conhecimento que tenho dos teus olhos, das imensidades que os teus olhos exploram, por não saber o que escrever sobre isso, o que dizer, e o que mostrar da sua insignificância original. Disso, sei apenas o seguinte: que já não posso fazer nada a não ser suportar esta exaltação a propósito de alguém que estava ali, de alguém que não sabia que vivia e de quem eu não sabia que vivia, de alguém que não sabia viver dizia-te eu, e de mim que o sabia e que não sabia que fazer disso, desse conhecimento da vida que ele vivia, e que também não sabia que fazer de mim.

Dizem que o tempo do pleno verão já se anuncia, é possível. Não sei. Que as rosas já ali estão, no fundo do parque. Que às vezes não são vistas por ninguém durante o tempo da sua vida e que ficam assim ali no seu perfume esquartejadas durante alguns dias e que depois se deixam cair. Nunca vistas por esta mulher solitária que esquece. Nunca vistas por mim, morrem.

Estou num amor entre viver e morrer. É através desta ausência do teu sentimento que reencontro a tua qualidade, essa, precisamente, de me agradares. Penso que apenas me interessa que a vida não te deixe, outra coisa não, o desenvolvimento da tua vida deixa-me indiferente, não pode ensinar-me nada sobre ti, só pode tornar-me a morte mais próxima, mais admissível, sim, desejável. É assim que permaneces face a mim, na doçura, numa provocação constante, inocente, impenetrável.


E tu não sabes.



Marguerite Duras


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