Thursday, July 29, 2004
embargados sobre as falhas, os olhos
(asas que anunciam a fuga)
param nos beirais das palavras
como afluentes gotejando em volta dos gestos
experimento a liberdade de te não pensar
agora que os gestos são paginas esquecidas
o mais difícil é seguir os pássaros num céu obliquo
e as feridas, desde já cosidas a ponto cerrado
diluem-se num Agosto pigmentado de dias luminosos
eue
(asas que anunciam a fuga)
param nos beirais das palavras
como afluentes gotejando em volta dos gestos
experimento a liberdade de te não pensar
agora que os gestos são paginas esquecidas
o mais difícil é seguir os pássaros num céu obliquo
e as feridas, desde já cosidas a ponto cerrado
diluem-se num Agosto pigmentado de dias luminosos
eue
Tuesday, July 27, 2004
Para o João que me tem iluminado muitos dias
Os sonhos são a minha biografia
Na luz tépida, passa, bibelot abolido,
das inanes palavras o sentido
A confusão dos sonhos, só
é o destino
crepuscular desses perfis, o seu exílio
O som dos sonhos, inaudível, guia
no seu destino as palavras que fogem
A poesia aproxima-as
do coração da vida
que as destrói com a sua existência mais forte
Gastão Cruz
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Os sonhos são a minha biografia
Na luz tépida, passa, bibelot abolido,
das inanes palavras o sentido
A confusão dos sonhos, só
é o destino
crepuscular desses perfis, o seu exílio
O som dos sonhos, inaudível, guia
no seu destino as palavras que fogem
A poesia aproxima-as
do coração da vida
que as destrói com a sua existência mais forte
Gastão Cruz
Monday, July 26, 2004
como se alonga o verão, quando a cor do vento varia?
deambulam frases sobre dias parados
como prenúncio de um tempo rigoroso,
as cores amarelecem sobre as ruas onde o céu
se desencontra com o vento
há quanto tempo chamo os pássaros sem resposta?
e como fumo de um cigarro mal aceso,
as nuvens contrastam com o olhar que se vê ao espelho
eue
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deambulam frases sobre dias parados
como prenúncio de um tempo rigoroso,
as cores amarelecem sobre as ruas onde o céu
se desencontra com o vento
há quanto tempo chamo os pássaros sem resposta?
e como fumo de um cigarro mal aceso,
as nuvens contrastam com o olhar que se vê ao espelho
eue
Friday, July 23, 2004
quando na parede se pendura um "adeus"
lado a lado com uma postura esquecida
o ciciar do tempo é áspero e tecido a saliva
entre a pele e a voz apenas os gestos dizem tudo
contorno-te no interior das palavras e em cada linha
formam-se paisagens apressadas
palavras à tona dos olhos quando na hora dos pássaros
o ritmo das histórias não chega ao fim
e entre o estar e o não estar há um espasmo branco
onde as palavras são ressequidas de silêncio
eue
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lado a lado com uma postura esquecida
o ciciar do tempo é áspero e tecido a saliva
entre a pele e a voz apenas os gestos dizem tudo
contorno-te no interior das palavras e em cada linha
formam-se paisagens apressadas
palavras à tona dos olhos quando na hora dos pássaros
o ritmo das histórias não chega ao fim
e entre o estar e o não estar há um espasmo branco
onde as palavras são ressequidas de silêncio
eue
Thursday, July 22, 2004
Wednesday, July 21, 2004
Vens de noite no sonho
Vens de noite no sonho
sem pés
entre páginas
de gasta paciência
quando a música findou
e teu sorriso se desfez
como um grão de pólen.
Vens no veneno oculto
de meus dias
no silêncio
dos meus ossos
devagar
arrastando em queda
o nosso mundo.
Vens no espectro
da angústia
na escrita
inquieta
destes versos
no luto maternal
que me devolve a ti.
A escuridão desce então
sobre o meu corpo
quando o rosto da morte
adormece na almofada.
Ana Marques Gastão
Vens de noite no sonho
sem pés
entre páginas
de gasta paciência
quando a música findou
e teu sorriso se desfez
como um grão de pólen.
Vens no veneno oculto
de meus dias
no silêncio
dos meus ossos
devagar
arrastando em queda
o nosso mundo.
Vens no espectro
da angústia
na escrita
inquieta
destes versos
no luto maternal
que me devolve a ti.
A escuridão desce então
sobre o meu corpo
quando o rosto da morte
adormece na almofada.
Ana Marques Gastão
Tuesday, July 20, 2004
Monday, July 19, 2004
Sunday, July 18, 2004
Saturday, July 17, 2004
Nem sempre a noite vem ao nosso encontro, para reconhecermos como uma luz acesa ao nosso lado traz consigo as mesmas recordações. Talvez acabe a solidão por ser ali menor. Estas são as imagens que connosco se confundem, quando nos aproximamos devagar uns dos outros, e reparamos na claridade que fica à nossa volta. Repetimos as palavras que tínhamos esquecido há muito. Sabemos que elas nos pertencem. Mas depois perdemo-las de novo. Para se unirem, as mãos têm que estar vazias?
Fernando Guimarães
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Fernando Guimarães
Wednesday, July 14, 2004
hoje só ouço este album
Rosa
Hoje o céu está mais azul
Eu sinto
Fecho os olhos, mesmo
assim
Eu sinto
O meu corpo estremecer
Não consigo adormecer
Ah, nem o tempo vai chegar
P'ra dizer o que eu sinto
Você longe de mim
É uma espécie de dor
Hoje o céu está mais azul
Eu sinto
Olho à volta mesmo assim
Eu sinto
Que este amor vai acabar
E a saudade vai voltar
Ah, nem o tempo vai chegar
P'ra dizer o que eu sinto
Você longe de mim
É uma espécie de dor
Já não sei o que esperar
Dessa vida fugidia
Não sei como explicar
Mas é mesmo assim o amor
Rodrigo Leão
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(imagem roubada deste blog fantástico)
Rosa
Hoje o céu está mais azul
Eu sinto
Fecho os olhos, mesmo
assim
Eu sinto
O meu corpo estremecer
Não consigo adormecer
Ah, nem o tempo vai chegar
P'ra dizer o que eu sinto
Você longe de mim
É uma espécie de dor
Hoje o céu está mais azul
Eu sinto
Olho à volta mesmo assim
Eu sinto
Que este amor vai acabar
E a saudade vai voltar
Ah, nem o tempo vai chegar
P'ra dizer o que eu sinto
Você longe de mim
É uma espécie de dor
Já não sei o que esperar
Dessa vida fugidia
Não sei como explicar
Mas é mesmo assim o amor
Rodrigo Leão
(imagem roubada deste blog fantástico)
Tuesday, July 13, 2004
perto do fim ver-se-ão ao fundo luzes a atravessar a noite.
só isso.
deixar-te-ei onde as palavras só são tuas
agora,
agora pouso o cigarro e sinto-te extenuado à procura de pretextos para falar.
parece-te natural?
tudo me parece tão pouco e escondida entre instantes com a boca a saber a noite
(há restos de ti nas palavras que me povoam)
demoro os dedos na chávena de café, bebido como todos os dias
no meio dos cheiros que são sombras no fim da tarde
e escolho a cor das primeiras palavras a sorrir timidamente
eue
só isso.
deixar-te-ei onde as palavras só são tuas
agora,
agora pouso o cigarro e sinto-te extenuado à procura de pretextos para falar.
parece-te natural?
tudo me parece tão pouco e escondida entre instantes com a boca a saber a noite
(há restos de ti nas palavras que me povoam)
demoro os dedos na chávena de café, bebido como todos os dias
no meio dos cheiros que são sombras no fim da tarde
e escolho a cor das primeiras palavras a sorrir timidamente
eue
Monday, July 12, 2004
Um rio de luzes
Um rio de escondidas luzes
atravessa a invenção da voz:
avança lentamente
mas de repente
irrompe fulminante
saindo-nos da boca
No espantoso momento
do agora da fala
é uma torrente enorme
um mar que se abre
na nossa garganta
Nesse rio
as palavras sobrevoam
as abruptas margens do sentido
Ana Hatherly
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Um rio de escondidas luzes
atravessa a invenção da voz:
avança lentamente
mas de repente
irrompe fulminante
saindo-nos da boca
No espantoso momento
do agora da fala
é uma torrente enorme
um mar que se abre
na nossa garganta
Nesse rio
as palavras sobrevoam
as abruptas margens do sentido
Ana Hatherly
Friday, July 9, 2004
Para um piano aniversariante e apreciador da pior comida do mundo- favas (como é que é possivel gostar dessa coisa esverdeada e com tão mau sabor??), aqui vai uma música do tio Tom
Time
Well the smart money's on Harlow and the moon is in the street
And the shadow boys are breaking all the laws
And you're east of East Saint Louis and the wind is making speeches
And the rain sounds like a round of applause
And Napoleon is weeping in a carnival saloon
His invisible fiancee's in the mirror
And the band is going home, it's raining hammers, it's raining nails
And it's true there's nothing left for him down here
And it's time time time, and it's time time time
And it's time time time that you love
And it's time time time
And they all pretend they're orphans and their memory's like a train
You can see it getting smaller as it pulls away
And the things you can't remember tell the things you can't forget
That history puts a saint in every dream
Well she said she'd stick around until the bandages came off
But these mama's boys just don't know when to quit
And Mathilda asks the sailors "Are those dreams or are those prayers?"
So close your eyes, son, and this won't hurt a bit
Oh it's time time time, and it's time time time
And it's time time time that you love
And it's time time time
Well things are pretty lousy for a calendar girl
The boys just dive right off the cars and splash into the street
And when they're on a roll she pulls a razor from her boot
And a thousand pigeons fall around her feet
So put a candle in the window and a kiss upon his lips
As the dish outside the window fills with rain
Just like a stranger with the weeds in your heart
And pay the fiddler off 'til I come back again
Oh it's time time time, and it's time time time
And it's time time time that you love
And it's time time time
And it's time time time, and it's time time time
And it's time time time that you love
And it's time time time
Tom Waits
Time
Well the smart money's on Harlow and the moon is in the street
And the shadow boys are breaking all the laws
And you're east of East Saint Louis and the wind is making speeches
And the rain sounds like a round of applause
And Napoleon is weeping in a carnival saloon
His invisible fiancee's in the mirror
And the band is going home, it's raining hammers, it's raining nails
And it's true there's nothing left for him down here
And it's time time time, and it's time time time
And it's time time time that you love
And it's time time time
And they all pretend they're orphans and their memory's like a train
You can see it getting smaller as it pulls away
And the things you can't remember tell the things you can't forget
That history puts a saint in every dream
Well she said she'd stick around until the bandages came off
But these mama's boys just don't know when to quit
And Mathilda asks the sailors "Are those dreams or are those prayers?"
So close your eyes, son, and this won't hurt a bit
Oh it's time time time, and it's time time time
And it's time time time that you love
And it's time time time
Well things are pretty lousy for a calendar girl
The boys just dive right off the cars and splash into the street
And when they're on a roll she pulls a razor from her boot
And a thousand pigeons fall around her feet
So put a candle in the window and a kiss upon his lips
As the dish outside the window fills with rain
Just like a stranger with the weeds in your heart
And pay the fiddler off 'til I come back again
Oh it's time time time, and it's time time time
And it's time time time that you love
And it's time time time
And it's time time time, and it's time time time
And it's time time time that you love
And it's time time time
Tom Waits
Thursday, July 8, 2004
O concerto da Lhasa foi mágico , arrepiante. Um concerto turbilhão que varias vezes me deixou com os olhos cheios de lágrimas.
Com aquele ar de menina envergonhada Lhasa conseguiu deslumbrar o sempre chato e difícil público de Coimbra
Eu quero mais:(
“Tu tens a sombra e a luz e eu penso que a música é a combinação das duas. Apenas luz não tem sentido para mim. Mas se for apenas sombra é demasiado escuro, não consegues ver nada. Precisas de luz e sombra, precisas do contraste de tristeza e esperança, amor e raiva. É isso que faz com que a minha música seja dramática, bonita. Esse conflito está sempre presente na minha vida. Por muito que queira caminhar para a luz, tenho de passar pela escuridão para chegar à luz.”
Lhasa de Sela, Fevereiro de 1998
Floricanto
Mi corazón sufre, y se llena de enojo.
Sólo una vez se nace, una vez se es un hombre.
Una vez se ama, pues de una vez por siempre.
Eso es mi destino, vivir según su antojo.
Si aún por breve tiempo estuvieras a mi lado,
Envuelto en mi rebozo, suspenso en mi beso,
Dejando tu cuidado entre flores olvidado.
Si aún por un momento estuvieras a mi lado.
Del todo nos vamos y desaparecemos en su…
Del todo nos vamos y desaparecemos en su casa.
Del todo nos vamos y desaparecemos en su…
Del todo nos vamos y desaparecemos en su casa.
Mi corazón sufre porque él también se acaba.
Suspira por la vida y marcha hacia la nada.
Su dominio es dudoso, su deber peligroso,
Sus nervios y su voz y su órbita prestados.
¡Ay ! así se hacen los cosas ondulando donde vida no …
Y así hacen los cosas ondulando donde vida no hay.
¡Ay ! así hacen los cosas ondulando donde vida no …
Y así hacen los cosas ondulando donde vida no hay.
Del todo nos vamos y desaparecemos en su…
Del todo nos vamos y desaparecemos en su casa.
¡Ay ! así hacen los cosas ondulando donde vida no…
Y así hacen los cosas ondulando donde vida no hay.
Lhasa
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Com aquele ar de menina envergonhada Lhasa conseguiu deslumbrar o sempre chato e difícil público de Coimbra
Eu quero mais:(
“Tu tens a sombra e a luz e eu penso que a música é a combinação das duas. Apenas luz não tem sentido para mim. Mas se for apenas sombra é demasiado escuro, não consegues ver nada. Precisas de luz e sombra, precisas do contraste de tristeza e esperança, amor e raiva. É isso que faz com que a minha música seja dramática, bonita. Esse conflito está sempre presente na minha vida. Por muito que queira caminhar para a luz, tenho de passar pela escuridão para chegar à luz.”
Lhasa de Sela, Fevereiro de 1998
Floricanto
Mi corazón sufre, y se llena de enojo.
Sólo una vez se nace, una vez se es un hombre.
Una vez se ama, pues de una vez por siempre.
Eso es mi destino, vivir según su antojo.
Si aún por breve tiempo estuvieras a mi lado,
Envuelto en mi rebozo, suspenso en mi beso,
Dejando tu cuidado entre flores olvidado.
Si aún por un momento estuvieras a mi lado.
Del todo nos vamos y desaparecemos en su…
Del todo nos vamos y desaparecemos en su casa.
Del todo nos vamos y desaparecemos en su…
Del todo nos vamos y desaparecemos en su casa.
Mi corazón sufre porque él también se acaba.
Suspira por la vida y marcha hacia la nada.
Su dominio es dudoso, su deber peligroso,
Sus nervios y su voz y su órbita prestados.
¡Ay ! así se hacen los cosas ondulando donde vida no …
Y así hacen los cosas ondulando donde vida no hay.
¡Ay ! así hacen los cosas ondulando donde vida no …
Y así hacen los cosas ondulando donde vida no hay.
Del todo nos vamos y desaparecemos en su…
Del todo nos vamos y desaparecemos en su casa.
¡Ay ! así hacen los cosas ondulando donde vida no…
Y así hacen los cosas ondulando donde vida no hay.
Lhasa
Wednesday, July 7, 2004
Tuesday, July 6, 2004
Na Galilea, zurzido (e também bucólico) cata-vento da ilha de Maiorca, o espectador conheceu uma menina de três anos com cara de viúva. A criaturinha chama-se Gildarda, tal qual uma infanta goda, e tem os olhinhos próximos e pequeninos, o cabelo tristemente frouxo, as pernas curtas, o traseiro cheiinho e circunspecto, a voz de grilo, o gesto solene, a saíta plissada e a camisola cor verde alface. Gildarda, vendo bem, é um nojo de miúda. Gildarda nasceu viúva, tem já três anos de viuvez; se não recebe nem um chavo pela viuvez não é por culpa dela: os seguros sociais estão ainda na etapa do direito administrativo. Gildarda e o espectador, às vezes, brincam às cozinhas com feijões e grãos-de-bico. Gildarda é muito trabalhadeira, anda sempre bem disposta e puxa o lustro aos feijões com a ponta da combinação; então, o espectador (que não há maneira de assentar a cabeça) aproveita para lhe dar um pontapé ou para lhe deitar água nas costas. Gildarda chora, e o espectador, arrebanhando as suas últimas energias, consegue que a consciência lhe remorda um bocadinho, quase nada. Gildarda e o espectador, com as suas brincadeiras, divertem-se bastante.
Há quem nasça velho e quem morra, pasmado pelos anos, galharda ou ternamente jovem, conforme o temperamento e o ofício.No Livro dos Provérbios lê-se que a alegria da juventude é a sua força; há quem nasça tendo já abdicado sem o saber (da mesma forma que os príncipes nascem príncipes) e há quem morra com netos e como sem ter dado importância à briga. Para Cristina da Suécia, tudo o que é fraco é velho e tudo o que é forte, novo. Se calhar um dia descobre-se que o calendário não serve para medir a idade. Gildarda é uma velhinha respeitável (embalsamável) que acaba de nascer. Quando Gildarda chegar, aos seus vinte e cinco anos, à senilidade, o espectador - se Deus se dignar a tal - terá de ser procurado nos campos onde se joga à moeda, às caricas e à bola.
- Chuta, Camilo, que estamos empatados a dezoito!
Gildarda, então, gritando como uma possessa "que horror!", "que horror!", correrá para se refugiar na delicada sombra onde vivem, se reproduzem e morrem os misteriosos e cautelosos cogumelos do mais atroz esquecimento. Pior para ela!
Camilo José Cela
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Há quem nasça velho e quem morra, pasmado pelos anos, galharda ou ternamente jovem, conforme o temperamento e o ofício.No Livro dos Provérbios lê-se que a alegria da juventude é a sua força; há quem nasça tendo já abdicado sem o saber (da mesma forma que os príncipes nascem príncipes) e há quem morra com netos e como sem ter dado importância à briga. Para Cristina da Suécia, tudo o que é fraco é velho e tudo o que é forte, novo. Se calhar um dia descobre-se que o calendário não serve para medir a idade. Gildarda é uma velhinha respeitável (embalsamável) que acaba de nascer. Quando Gildarda chegar, aos seus vinte e cinco anos, à senilidade, o espectador - se Deus se dignar a tal - terá de ser procurado nos campos onde se joga à moeda, às caricas e à bola.
- Chuta, Camilo, que estamos empatados a dezoito!
Gildarda, então, gritando como uma possessa "que horror!", "que horror!", correrá para se refugiar na delicada sombra onde vivem, se reproduzem e morrem os misteriosos e cautelosos cogumelos do mais atroz esquecimento. Pior para ela!
Camilo José Cela
Monday, July 5, 2004
Este Verão
Este Verão ensina-me
a amar as minhas cicatrizes
a enfeitar-me com marcas de estrangulamento no pescoço
Este Verão ensina-me
a fechar à chave a amargura e fico
bem roliça e anafada pareço bem tratada
Este Verão ensina-me
a gritar o bel canto
Este Verão ensina-me
que a solidão descansa
e cresce numa mão
Este Verão ensina-me
a não confundir um corpo disponível
com o desejo de felicidade
Este Verão ensina-me
a ser para cada pedra um espelho de água
Este Verão ensina-me
a amar grandes bolas de sabão e pequenas
antes de rebentarem
Este Verão ensina-me
que tudo sem nós
por si continua
Este Verão ensina-me
um rosto gelado feliz
Este Verão ensina-me
tenho que ser eu a bater no tambor
quando quiser dançar
este Verão ensina-me
a ser sem felicidade sem tristeza por uns
segundos aliada de Deus
Este Verão ensina-me
a acordar de manhã. Grata. Sozinha.
Este Verão ensina-me
que a folha do limoeiro só deita cheiro
quando a desfazemos entre os dedos.
Ulla Hahn
Este Verão ensina-me
a amar as minhas cicatrizes
a enfeitar-me com marcas de estrangulamento no pescoço
Este Verão ensina-me
a fechar à chave a amargura e fico
bem roliça e anafada pareço bem tratada
Este Verão ensina-me
a gritar o bel canto
Este Verão ensina-me
que a solidão descansa
e cresce numa mão
Este Verão ensina-me
a não confundir um corpo disponível
com o desejo de felicidade
Este Verão ensina-me
a ser para cada pedra um espelho de água
Este Verão ensina-me
a amar grandes bolas de sabão e pequenas
antes de rebentarem
Este Verão ensina-me
que tudo sem nós
por si continua
Este Verão ensina-me
um rosto gelado feliz
Este Verão ensina-me
tenho que ser eu a bater no tambor
quando quiser dançar
este Verão ensina-me
a ser sem felicidade sem tristeza por uns
segundos aliada de Deus
Este Verão ensina-me
a acordar de manhã. Grata. Sozinha.
Este Verão ensina-me
que a folha do limoeiro só deita cheiro
quando a desfazemos entre os dedos.
Ulla Hahn
Sunday, July 4, 2004
sobre uma paisagem de sílabas a memória é um banco de rostos
rompem-se caminhos sem mapas onde as palavras desenham fronteiras
verbos líricos recortando conclusões em gestos esboçados no ar
floreados da fala onde a pele perde o rasto das sombras
lado a lado, contornados pelo tacto
corpos ficam no fundo da linguagem
fazem de conta que são isto e aquilo
enquanto eu escrevo o vazio
eue
rompem-se caminhos sem mapas onde as palavras desenham fronteiras
verbos líricos recortando conclusões em gestos esboçados no ar
floreados da fala onde a pele perde o rasto das sombras
lado a lado, contornados pelo tacto
corpos ficam no fundo da linguagem
fazem de conta que são isto e aquilo
enquanto eu escrevo o vazio
eue
Ao ler um post neste blog sobre o “Primavera, Verão, Outono, Inverno… e Primavera”, apercebi-me que provavelmente é o filme que me apetecia ir ver e que nunca irei ver (como eu odeio o provincianismo dos cinemas de Coimbra)
Aqui ficam umas fotos para acompanhar a leitura deste post
podem ver o trailer aqui (é viciante)
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Aqui ficam umas fotos para acompanhar a leitura deste post
podem ver o trailer aqui (é viciante)
Saturday, July 3, 2004
A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.
A hora da partida soa quando
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.
Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.
A hora da partida soa quando
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.
Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Thursday, July 1, 2004
OFELIA
Ella vive con una mano en la garganta
Y un dolor desnudo acurrucado
En la parte más amable de su nuca
Parecieran fetos de escorpiones
Anidando en el cálido hueco
Mientras
Ofelia flota en el río
Y mueve los ojos
Pero está muerta
Y sonríe y canta en su locura
Pero está muerta
Y su vestido blanco flota con ella, rojo
Y se marcha río abajo con sonidos de agua
Ofelia flota
Y descansa en un campo de lilas
En un jardín de ruinas
Ofelia se aleja cantando
Le acompaña una dama muda
Con antiguos escorpiones en su nuca
La una moría con una mano en la garganta
La otra, dentro del río acariciando las aguas rojas
Nuria Ruiz de Viñaspre
Ella vive con una mano en la garganta
Y un dolor desnudo acurrucado
En la parte más amable de su nuca
Parecieran fetos de escorpiones
Anidando en el cálido hueco
Mientras
Ofelia flota en el río
Y mueve los ojos
Pero está muerta
Y sonríe y canta en su locura
Pero está muerta
Y su vestido blanco flota con ella, rojo
Y se marcha río abajo con sonidos de agua
Ofelia flota
Y descansa en un campo de lilas
En un jardín de ruinas
Ofelia se aleja cantando
Le acompaña una dama muda
Con antiguos escorpiones en su nuca
La una moría con una mano en la garganta
La otra, dentro del río acariciando las aguas rojas
Nuria Ruiz de Viñaspre
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