Assim não brinco.
(lebre em modo triste e amuado)
Sunday, April 30, 2006
Saturday, April 29, 2006
Mulher gorda na janela
Não há pressa nos seus olhos,
apenas o costume de estar só.
O seu olhar fixa as marcas que deixam os carros,
atenta em vão
ao que falta.
Apoia a cara no vidro frio
e repousa.
Olha as suas mãos redondas, pequenas,
toca nos seus seios grandes e quentes,
pensa nos seus pés e sorri maternalmente.
Corpulenta e doce como uma boa sopa,
murmura,
e no entanto está só.
Sabe que está fora mas não sabe de quê.
Ninguém percebe a sua paixão
pesada e gorda na janela.
Beatriz Novaro
Não há pressa nos seus olhos,
apenas o costume de estar só.
O seu olhar fixa as marcas que deixam os carros,
atenta em vão
ao que falta.
Apoia a cara no vidro frio
e repousa.
Olha as suas mãos redondas, pequenas,
toca nos seus seios grandes e quentes,
pensa nos seus pés e sorri maternalmente.
Corpulenta e doce como uma boa sopa,
murmura,
e no entanto está só.
Sabe que está fora mas não sabe de quê.
Ninguém percebe a sua paixão
pesada e gorda na janela.
Beatriz Novaro
Friday, April 28, 2006
Thursday, April 27, 2006
A menina translúcida passa.
Vê-se a luz do sol dentro dos seus dedos.
Brilha em sua narina o coral do dia.
Leva o arco-íris em cada fio do cabelo.
Em sua pele, madrepérolas hesitantes
pintam leves alvoradas de neblina.
Evaporam-se-lhe os vestidos, na paisagem.
É apenas o vento que vai levando seu corpo pelas alamedas.
A cada passo, uma flor, a cada movimento, um pássaro.
E quando pára na ponte, as águas todas vão correndo,
em verdes lágrimas para dentro dos seus olhos.
Cecília Meireles
Vê-se a luz do sol dentro dos seus dedos.
Brilha em sua narina o coral do dia.
Leva o arco-íris em cada fio do cabelo.
Em sua pele, madrepérolas hesitantes
pintam leves alvoradas de neblina.
Evaporam-se-lhe os vestidos, na paisagem.
É apenas o vento que vai levando seu corpo pelas alamedas.
A cada passo, uma flor, a cada movimento, um pássaro.
E quando pára na ponte, as águas todas vão correndo,
em verdes lágrimas para dentro dos seus olhos.
Cecília Meireles
Wednesday, April 26, 2006
Bicycle tricycle
Bicycle tricycle take me far with
My hands on your handlebars. I can’t
Be homecoming queen for every boy
That falls in and out of love with me.
I won’t look back
I’ve been here before
I’ve been here before
I’ll turn my back
Whatever it takes to let him go
Flower dress strawberry red
I must confess you’re my safety pin
Hold me together hide me well
So he cannot tell the state that I am in
I won’t look back
I’ve been here before
I’ve been here before
I’ll turn my back
Whatever it takes to let him go
Roller skates figure eights
Roll me away and I won’t complain
I’ll bring my raincoat boots and umbrella
So he can’t ever rain on my parade
Rosie Thomas
Bicycle tricycle take me far with
My hands on your handlebars. I can’t
Be homecoming queen for every boy
That falls in and out of love with me.
I won’t look back
I’ve been here before
I’ve been here before
I’ll turn my back
Whatever it takes to let him go
Flower dress strawberry red
I must confess you’re my safety pin
Hold me together hide me well
So he cannot tell the state that I am in
I won’t look back
I’ve been here before
I’ve been here before
I’ll turn my back
Whatever it takes to let him go
Roller skates figure eights
Roll me away and I won’t complain
I’ll bring my raincoat boots and umbrella
So he can’t ever rain on my parade
Rosie Thomas
Tuesday, April 25, 2006
Monday, April 24, 2006
25 abril sempre
Cada dia tenho menos uma letra,
uma boca e a mão para a dizer.
Fui colhendo a noite, palavras surdas,
o silêncio que a morte continua
sob a pele da madrugada.
Cada dia tenho menos um coração,
menos uma noite. Resta-me a memória
de abril dentro um copo de esquecimento,
o fundo da liberdade
que alguém bebeu de nós:
a canção morena da alegria,
o cravo ao rubro de fundir a paz.
Menos uma boca, uma criança
alada. Menos uma cidade onde a esperança
se cola ao rosto. Os meus passos presos
ao chão são menos o olhar que a manhã
oferece. Mas era uma vez e aconteceu
um dia, em todos os outros desse dia,
por muito tempo e ainda agora:
acordar, pôr o café na chávena
e barrar o pão com a liberdade.
Rosa Alice Branco
Cada dia tenho menos uma letra,
uma boca e a mão para a dizer.
Fui colhendo a noite, palavras surdas,
o silêncio que a morte continua
sob a pele da madrugada.
Cada dia tenho menos um coração,
menos uma noite. Resta-me a memória
de abril dentro um copo de esquecimento,
o fundo da liberdade
que alguém bebeu de nós:
a canção morena da alegria,
o cravo ao rubro de fundir a paz.
Menos uma boca, uma criança
alada. Menos uma cidade onde a esperança
se cola ao rosto. Os meus passos presos
ao chão são menos o olhar que a manhã
oferece. Mas era uma vez e aconteceu
um dia, em todos os outros desse dia,
por muito tempo e ainda agora:
acordar, pôr o café na chávena
e barrar o pão com a liberdade.
Rosa Alice Branco
Sunday, April 23, 2006
mais uma traduçao "caseira" da lebre
Fazer um homem
Método tradicional
Peguem em algum pó do chão. Dêem-lhe forma. Soprem-lhe nas narinas o sopro da vida. Simples mas eficaz
(por favor notem que embora os homens sejam feitos de pó, as mulheres são feitas de costelas, lembrem-se disso no vosso próximo barbecue ao estilo texano)
Devem ou não dar um umbigo ao vosso homem?
As autoridades no método tradicional discordam, mas nós gostamos de incluir um, porque achamos que dá um toque final. Usem o vosso polegar
Margaret Atwood
Fazer um homem
Método tradicional
Peguem em algum pó do chão. Dêem-lhe forma. Soprem-lhe nas narinas o sopro da vida. Simples mas eficaz
(por favor notem que embora os homens sejam feitos de pó, as mulheres são feitas de costelas, lembrem-se disso no vosso próximo barbecue ao estilo texano)
Devem ou não dar um umbigo ao vosso homem?
As autoridades no método tradicional discordam, mas nós gostamos de incluir um, porque achamos que dá um toque final. Usem o vosso polegar
Margaret Atwood
Saturday, April 22, 2006
Um Dos Capítulos
Ainda te falta
dizer isto: que nem tudo
o que veio
chegou por acaso. Que há
flores que de ti
dependem, que foste
tu que deixaste
algumas lâmpadas
acesas. Que há
na brancura
do papel alguns
sinais de tinta
indecifráveis. E
que esse
é apenas
um dos capítulos do livro
em que tudo
se lê e nada
está escrito.
Albano Martins
Ainda te falta
dizer isto: que nem tudo
o que veio
chegou por acaso. Que há
flores que de ti
dependem, que foste
tu que deixaste
algumas lâmpadas
acesas. Que há
na brancura
do papel alguns
sinais de tinta
indecifráveis. E
que esse
é apenas
um dos capítulos do livro
em que tudo
se lê e nada
está escrito.
Albano Martins
Thursday, April 20, 2006
Eu não procuro nada em ti,
nem a mim próprio, é algo em ti
que procura algo em ti
no labirinto dos meus pensamentos.
Eu estou entre ti e ti,
a minha vida, os meus sentidos
(principalmente os meus sentidos)
toldam de sombras o teu rosto.
O meu rosto não reflecte a tua imagem,
o meu silêncio não te deixa falar,
o meu corpo não deixa que se juntem
as partes dispersas de ti em mim.
Eu sou talvez
aquele que procuras,
e as minhas dúvidas a tua voz
chamando do fundo do meu coração.
Manuel António Pina
nem a mim próprio, é algo em ti
que procura algo em ti
no labirinto dos meus pensamentos.
Eu estou entre ti e ti,
a minha vida, os meus sentidos
(principalmente os meus sentidos)
toldam de sombras o teu rosto.
O meu rosto não reflecte a tua imagem,
o meu silêncio não te deixa falar,
o meu corpo não deixa que se juntem
as partes dispersas de ti em mim.
Eu sou talvez
aquele que procuras,
e as minhas dúvidas a tua voz
chamando do fundo do meu coração.
Manuel António Pina
Wednesday, April 19, 2006
Tuesday, April 18, 2006
PREÂMBULO ÀS INSTRUÇÕES PARA DAR CORDA AO RELÓGIO
Pensa nisto: quando te oferecem um relógio, oferecem-te um pequeno inferno florido, uma prisão de rosas, um calabouço de ar. Não te dão somente o relógio, muitos parabéns, que te dure muitos e bons, é uma óptima marca, suíço com não sei quantos rubis, não te oferecem somente esse pequeno pedreiro que prenderás ao pulso e passeará contigo. Oferecem-te -- ignoram-no, é terrível ignorá-lo -- um novo bocado frágil e precário de ti mesmo, algo que é teu mas não é o teu corpo, que tens de prender ao teu corpo com uma correia, como um bracito desesperado pendente do pulso. Oferecem-te a necessidade de lhe dar corda todos os dias, a obrigação de dar corda para que continue a ser um relógio; oferecem-te a obsessão de ver as horas certas nas montras das joalharias, o sinal horário na rádio, o serviço telefónico. Oferecem-te o medo de o perder, de seres roubado, de que caia ao chão e se parta. Oferecem-te uma marca, a convicção de que é uma marca superior às outras, oferecem-te a tentação de comparares o teu com os outros relógios. Não te oferecem um relógio, és tu o oferecido, a ti oferecem para o nascimento do relógio.
INSTRUÇÕES PARA DAR CORDA AO RELÓGIO
Lá bem no fundo está a morte, mas não tenha medo. Segure o relógio com uma mão, com dois dedos na roda da corda, suavemente faça-a rodar. Um outro tempo começa, perdem as árvores as folhas, os barcos voam, como um leque enche-se o tempo de si mesmo, dele brotam o ar, a brisa da terra, a sombra de uma mulher, o perfume do pão.
Quer mais alguma coisa? Aperte-o ao pulso, deixe-o correr em liberdade, imite-o sôfrego. O medo enferruja as rodas, tudo o que se poderia alcançar e foi esquecido vai corroer as velas do relógio, gangrenando o frio sangue dos seus pequenos rubis. E lá bem no fundo está a morte, se não corrermos e chegarmos antes para compreender que já não interessa nada.
Julio Cortázar
Pensa nisto: quando te oferecem um relógio, oferecem-te um pequeno inferno florido, uma prisão de rosas, um calabouço de ar. Não te dão somente o relógio, muitos parabéns, que te dure muitos e bons, é uma óptima marca, suíço com não sei quantos rubis, não te oferecem somente esse pequeno pedreiro que prenderás ao pulso e passeará contigo. Oferecem-te -- ignoram-no, é terrível ignorá-lo -- um novo bocado frágil e precário de ti mesmo, algo que é teu mas não é o teu corpo, que tens de prender ao teu corpo com uma correia, como um bracito desesperado pendente do pulso. Oferecem-te a necessidade de lhe dar corda todos os dias, a obrigação de dar corda para que continue a ser um relógio; oferecem-te a obsessão de ver as horas certas nas montras das joalharias, o sinal horário na rádio, o serviço telefónico. Oferecem-te o medo de o perder, de seres roubado, de que caia ao chão e se parta. Oferecem-te uma marca, a convicção de que é uma marca superior às outras, oferecem-te a tentação de comparares o teu com os outros relógios. Não te oferecem um relógio, és tu o oferecido, a ti oferecem para o nascimento do relógio.
INSTRUÇÕES PARA DAR CORDA AO RELÓGIO
Lá bem no fundo está a morte, mas não tenha medo. Segure o relógio com uma mão, com dois dedos na roda da corda, suavemente faça-a rodar. Um outro tempo começa, perdem as árvores as folhas, os barcos voam, como um leque enche-se o tempo de si mesmo, dele brotam o ar, a brisa da terra, a sombra de uma mulher, o perfume do pão.
Quer mais alguma coisa? Aperte-o ao pulso, deixe-o correr em liberdade, imite-o sôfrego. O medo enferruja as rodas, tudo o que se poderia alcançar e foi esquecido vai corroer as velas do relógio, gangrenando o frio sangue dos seus pequenos rubis. E lá bem no fundo está a morte, se não corrermos e chegarmos antes para compreender que já não interessa nada.
Julio Cortázar
Monday, April 17, 2006
agora, que regresso, são novos os retratos
sobre o tampo da mesa; e outros também
os livros e os enredos e as histórias
concebidas sobre a cama onde antes se
demorava o meu perfume se eu partia.
é como se voltasse apenas de perfil; e
do romance outrora longamente entalado
entre os dedos já só sobrasse uma lombada
estreita, acanhada na estante. Havia um
sonho exausto sobre as minhas pálpebras
antes de ter chegado; e agora,
que regresso, não tenho voz que o diga -
sou de lugar nenhum, ninguém me tem.
chama-me, se quiseres. Talvez a porta se abra
se disseres o meu nome devagar. Di-lo
mais uma vez dentro da minha boca, a trocar
o corpo com o meu. Assim, antes que eu parta
outra vez, de vez, para um lugar qualquer
onde não mais se espere o que não volta.
Maria do Rosário Pedreira
sobre o tampo da mesa; e outros também
os livros e os enredos e as histórias
concebidas sobre a cama onde antes se
demorava o meu perfume se eu partia.
é como se voltasse apenas de perfil; e
do romance outrora longamente entalado
entre os dedos já só sobrasse uma lombada
estreita, acanhada na estante. Havia um
sonho exausto sobre as minhas pálpebras
antes de ter chegado; e agora,
que regresso, não tenho voz que o diga -
sou de lugar nenhum, ninguém me tem.
chama-me, se quiseres. Talvez a porta se abra
se disseres o meu nome devagar. Di-lo
mais uma vez dentro da minha boca, a trocar
o corpo com o meu. Assim, antes que eu parta
outra vez, de vez, para um lugar qualquer
onde não mais se espere o que não volta.
Maria do Rosário Pedreira
Wednesday, April 12, 2006
Tuesday, April 11, 2006
a jukebox da lebre (canção perfeita versão 1.5)
Rented Rooms- Tindersticks
There’s the same hotel, and we can go there now
We can go there now if you want to
Through the doors of that rented room
Yeah, we stumbled through
It was only hours
It seemd such a short while
We had no time to cry
Or sit and wonder why
We had so many things started to say
We had to get through
We tried the cinema
Within half an hour
We had to go find someplace else
Some more. . . you know
We tried a drinking bar
It gets so very hard
And when the cab ride gets too long
We go fuck in the bathroom
We can’t afford the time to sit and cry
Or to wonder why
We’ve got so many things started to say
We had to get through
Through the doors of that rented room
Yeah, we stumbled through
We had so many things started to say
We had to get through
We can’t afford the time to sit and cry
Or to wonder why
We’ve got so many things started to say
We had to get through
We haven’t got the time for telling lies
Or to even try
There’s only days in between
There’s just tomorrow
In those pillows all the feathers that hold all our dreams
Whispered at the scene
Now they just seem to float on a breeze
I could have wrapped that pillow around my head
Face down on the bed
I could have drowned in those so-called dreams
Rented Rooms- Tindersticks
There’s the same hotel, and we can go there now
We can go there now if you want to
Through the doors of that rented room
Yeah, we stumbled through
It was only hours
It seemd such a short while
We had no time to cry
Or sit and wonder why
We had so many things started to say
We had to get through
We tried the cinema
Within half an hour
We had to go find someplace else
Some more. . . you know
We tried a drinking bar
It gets so very hard
And when the cab ride gets too long
We go fuck in the bathroom
We can’t afford the time to sit and cry
Or to wonder why
We’ve got so many things started to say
We had to get through
Through the doors of that rented room
Yeah, we stumbled through
We had so many things started to say
We had to get through
We can’t afford the time to sit and cry
Or to wonder why
We’ve got so many things started to say
We had to get through
We haven’t got the time for telling lies
Or to even try
There’s only days in between
There’s just tomorrow
In those pillows all the feathers that hold all our dreams
Whispered at the scene
Now they just seem to float on a breeze
I could have wrapped that pillow around my head
Face down on the bed
I could have drowned in those so-called dreams
Monday, April 10, 2006
é entre te rasgar das palavras e o que fica na memória
que falas
e só te observa um olhar vazio
é tarde, começas a anotar solidões
em sequências de palavras que achas certeiras
subitamente a tua voz é lisa
e falas muito
as ideias esperam por mais um cigarro
como se cada frase fosse um gesto
talvez coloque as mãos a servir de mascara
para enquadrar a dor apenas na pele
a tua voz contorna-me os lábios
mas só fragmentos ficam no vento
Maria
(a pedido de muitas familias, o eue passou a maria)
que falas
e só te observa um olhar vazio
é tarde, começas a anotar solidões
em sequências de palavras que achas certeiras
subitamente a tua voz é lisa
e falas muito
as ideias esperam por mais um cigarro
como se cada frase fosse um gesto
talvez coloque as mãos a servir de mascara
para enquadrar a dor apenas na pele
a tua voz contorna-me os lábios
mas só fragmentos ficam no vento
Maria
(a pedido de muitas familias, o eue passou a maria)
Sunday, April 9, 2006
Para cá de mim e para lá de mim, antes e depois.
E entre mim eu, isto é, palavras,
formas indecisas
procurando um eixo que
lhes dê peso, um sentido capaz de conter
a sua inocência
uma voz (uma palavra) a que se prender
antes de se despedaçarem
contra tanto silêncio.
São elas, as tuas palavras, quem diz "eu";
se tiveres ouvidos suficientemente privados
podes escutar o seu coração
pulsando sob a palavra da tua existência,
entre o para cá de ti e o para lá de ti.
Tu és aquilo que as tuas palavras ouvem,
ouves o teu coração (as tuas palavras "o teu coração")?
Manuel António Pina
E entre mim eu, isto é, palavras,
formas indecisas
procurando um eixo que
lhes dê peso, um sentido capaz de conter
a sua inocência
uma voz (uma palavra) a que se prender
antes de se despedaçarem
contra tanto silêncio.
São elas, as tuas palavras, quem diz "eu";
se tiveres ouvidos suficientemente privados
podes escutar o seu coração
pulsando sob a palavra da tua existência,
entre o para cá de ti e o para lá de ti.
Tu és aquilo que as tuas palavras ouvem,
ouves o teu coração (as tuas palavras "o teu coração")?
Manuel António Pina
Saturday, April 8, 2006
When I was a kid, I thought I was. I can't believe I'm crying already. Sometimes I think people don't understand how lonely it is to be a kid, like you don't matter. So, I'm eight, and I have these toys, these dolls. My favorite is this ugly girl doll who I call Clementine, and I keep yelling at her, "You can't be ugly! Be pretty!" It's weird, like if I can transform her, I would magically change, too.
eternal sunshine of the spotless mind
eternal sunshine of the spotless mind
Thursday, April 6, 2006
Clap Your Hands!!
Run the lip off sunshine shore
Betray white water
Delay dark forms
Slap young waves on wooden bones
Don't touch the laughter and away we go
Away we go
CLAP YOUR HANDS!
But I feel so lonely
CLAP YOUR HANDS!
But it won't do nothing
CLAP YOUR HANDS!
But I have no money
CLAP YOUR HANDS!
When it don't seem likely
CLAP YOUR HANDS!
Are you up to something?
CLAP YOUR HANDS!
Where's my milk and honey?
CLAP YOUR HANDS!
But I just look funny
CLAP YOUR HANDS!
I'll just wait awhile
As time alone stands still for some
Stuffed sailor up with eyeball sun
And if by castle ship should stray
It has like you no chosen fate for
It's tongue-tied caboose that leads
This ragged lad, this finger-flipping
Mom and dad (for what is worth some
Aimless steer?) And should mouth
Confuse my foggy mirror and reveal
What is not there I shall take this
Unbound train away...
Run the lip off sunshine shore
Betray white water
Delay dark forms
Slap young waves on wooden bones
Don't touch the laughter and away we go
Away we go
CLAP YOUR HANDS!
But I feel so lonely
CLAP YOUR HANDS!
But it won't do nothing
CLAP YOUR HANDS!
But I have no money
CLAP YOUR HANDS!
When it don't seem likely
CLAP YOUR HANDS!
Are you up to something?
CLAP YOUR HANDS!
Where's my milk and honey?
CLAP YOUR HANDS!
But I just look funny
CLAP YOUR HANDS!
I'll just wait awhile
As time alone stands still for some
Stuffed sailor up with eyeball sun
And if by castle ship should stray
It has like you no chosen fate for
It's tongue-tied caboose that leads
This ragged lad, this finger-flipping
Mom and dad (for what is worth some
Aimless steer?) And should mouth
Confuse my foggy mirror and reveal
What is not there I shall take this
Unbound train away...
mais uma tradução caseira da lebre
Inventei uma mentira.
Não há outro dia sem ser segunda-feira.
Parecia razoável fingir
que eu conseguia mudar o dia
como um par de meias.
Para dizer a verdade
os dias são todos do mesmo tamanho
e as palavras não são grande companhia.
Se eu estivesse doente, seria uma criança,
aconchegada debaixo de cobertores, a bebericar o meu caldo.
Assim sendo,
não vale a pena apanhar ou mentir sobre os dias.
No entanto, és o único
que eu posso incomodar com este assunto.
Anne Sexton
Inventei uma mentira.
Não há outro dia sem ser segunda-feira.
Parecia razoável fingir
que eu conseguia mudar o dia
como um par de meias.
Para dizer a verdade
os dias são todos do mesmo tamanho
e as palavras não são grande companhia.
Se eu estivesse doente, seria uma criança,
aconchegada debaixo de cobertores, a bebericar o meu caldo.
Assim sendo,
não vale a pena apanhar ou mentir sobre os dias.
No entanto, és o único
que eu posso incomodar com este assunto.
Anne Sexton
Wednesday, April 5, 2006
Tuesday, April 4, 2006
Monday, April 3, 2006
mais uma tradução caseira da lebre
Gajas impopulares
Todos têm a sua vez, agora é a minha. Ou pelo menos era o que nos ensinavam no jardim-escola. Não é realmente verdade. Alguns têm mais vezes que outros, e eu nunca tive uma, nem uma. Eu mal sei dizer eu, ou meu, tenho sido ela, a ela, aquela, há tanto tempo.
Nem sequer me foi dado um nome; fui sempre a irmã feia , ponham ênfase no feia. Aquela para quem as outras mães olhavam e depois desviavam o olhar abanando as cabeças suavemente. As suas vozes baixavam ou calavam-se quando eu entrava no quarto, com os meus vestidos bonitos, a minha cara inerte e carrancuda. Elas tentavam pensar em algo para dizer que redimisse a situação - bem, ela é forte - mas sabiam que era inútil. E eu também.
Acham que eu não odiava a pena delas, a sua bondade forçada? E saber que, não importava o que eu fizesse, o quão virtuosa eu era, ou trabalhadora, eu nunca seria bonita. Não como ela, aquela a quem bastava estar sentada para ser adorada. E ainda se admiram porque eu espetei alfinetes nos olhos azuis das minhas bonecas e lhes puxei o cabelo até elas ficarem carecas? A vida não é justa, porque é que eu deveria ser?
Quanto ao príncipe, acham que eu não o amei? Amei-o mais do que ela; amei-o mais que tudo. O suficiente para cortar o meu pé, o suficiente para matar. Claro que me disfarcei com muitos véus, para tomar o lugar dela no altar. Claro que a empurrei da janela para fora e puxei os lençóis para cima da cara e fingi ser ela. Quem não o faria, se estivesse no meu lugar?
Mas todo o meu amor chegou sempre a um mau fim. Sapatos a escaldar, barris cheios de pregos. É assim que se sente, amor não correspondido.
Ela também teve um filho. A mim nunca me foi permitido.
Tudo o que vocês quiseram, eu quis também.
Margaret Atwood
obrigada at por este livro maravilhoso
Gajas impopulares
Todos têm a sua vez, agora é a minha. Ou pelo menos era o que nos ensinavam no jardim-escola. Não é realmente verdade. Alguns têm mais vezes que outros, e eu nunca tive uma, nem uma. Eu mal sei dizer eu, ou meu, tenho sido ela, a ela, aquela, há tanto tempo.
Nem sequer me foi dado um nome; fui sempre a irmã feia , ponham ênfase no feia. Aquela para quem as outras mães olhavam e depois desviavam o olhar abanando as cabeças suavemente. As suas vozes baixavam ou calavam-se quando eu entrava no quarto, com os meus vestidos bonitos, a minha cara inerte e carrancuda. Elas tentavam pensar em algo para dizer que redimisse a situação - bem, ela é forte - mas sabiam que era inútil. E eu também.
Acham que eu não odiava a pena delas, a sua bondade forçada? E saber que, não importava o que eu fizesse, o quão virtuosa eu era, ou trabalhadora, eu nunca seria bonita. Não como ela, aquela a quem bastava estar sentada para ser adorada. E ainda se admiram porque eu espetei alfinetes nos olhos azuis das minhas bonecas e lhes puxei o cabelo até elas ficarem carecas? A vida não é justa, porque é que eu deveria ser?
Quanto ao príncipe, acham que eu não o amei? Amei-o mais do que ela; amei-o mais que tudo. O suficiente para cortar o meu pé, o suficiente para matar. Claro que me disfarcei com muitos véus, para tomar o lugar dela no altar. Claro que a empurrei da janela para fora e puxei os lençóis para cima da cara e fingi ser ela. Quem não o faria, se estivesse no meu lugar?
Mas todo o meu amor chegou sempre a um mau fim. Sapatos a escaldar, barris cheios de pregos. É assim que se sente, amor não correspondido.
Ela também teve um filho. A mim nunca me foi permitido.
Tudo o que vocês quiseram, eu quis também.
Margaret Atwood
obrigada at por este livro maravilhoso
Sunday, April 2, 2006
strange little girl
one day you see a strange little girl look at you
one day you see a strange little girl feeling blue
she'd run to the town one day
leaving home and the country fair
just beware
when you're there
strange little girl
she didn't know how to live in a town that was rough
it didn't take long before she knew she had enough
walking home in her wrapped up world
she survived but she's feeling old
and she found all things cold
strange little girl
where are you going?
strange little girl
where are you going?
do you know where you could be going?
walking home in her wrapped up world
she survived but she's feeling old
cuz she found all things cold
strange little girl
where are you going?
do you know where you could be going?
Stranglers
one day you see a strange little girl look at you
one day you see a strange little girl feeling blue
she'd run to the town one day
leaving home and the country fair
just beware
when you're there
strange little girl
she didn't know how to live in a town that was rough
it didn't take long before she knew she had enough
walking home in her wrapped up world
she survived but she's feeling old
and she found all things cold
strange little girl
where are you going?
strange little girl
where are you going?
do you know where you could be going?
walking home in her wrapped up world
she survived but she's feeling old
cuz she found all things cold
strange little girl
where are you going?
do you know where you could be going?
Stranglers
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