A vida responsável
Conduzir mas sem ter um acidente,
comprar massas e desodorizantes
e cortar as unhas às minhas filhas.
Madrugar outra vez e ter cuidado
Em não dizer inconveniências,
Esmerar-me na prosa de umas folhas
E estou-me nas tintas para elas,
Retocar de vermelho cada face.
Lembrar-me da consulta ao pediatra,
Responder ao correio, estender roupa,
Declarar rendimentos, ler uns livros,
Fazer umas chamadas telefónicas.
Bem gostaria de me dar ao luxo
De ter o tempo todo que quisesse
Para fazer só coisas esquisitas,
Coisas desnecessárias, prescindíveis
E, sobretudo, inúteis e patetas.
Por exemplo, amar-te com loucura.
Amalia Bautista
2 comments:
que subtileza...a imagem está incrível.
e se amor fosse a palavra inventada para nos consolar a triste constatação da paixão ser coisa efémera; da loucura ser um estado que se deseja e seduz apenas enquanto permanece do dominio do desejo; do belo e do pleno só o serem enquanto conceitos.
se amor fosse (só) isso, era uma pena. doce pena, mas pena.
"amar-te com loucura" ... andará assim tão distante de levar as crianças ao pediatra quando podia estar a apaixonar-me pela proxima desconhecida disponivel que me seduzisse numa mesa de café a ler o meu livro de cabeceira?
obviamente, pergunto-me.
a foto está fabulosa!
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