Tuesday, August 24, 2004

O ROSTO DA MATÉRIA





Parece simples

a simplicidade que vem das coisa

se nos encontra a meio do caminho

entre o que não fizemos

e o que não faremos.

Também elas percorrem os círculos

do poço em que se afundam

a boca negra de onde sai a tinta

e espalha a luz do dia

igual á luz da noite.

Tratam-se por tu as coisas

e esta intimidade

flutua no ar do papel

onde crianças voam com as cores

de um papagaio pois não é assim que o vento faz o vento

desde todo o sempre?

Sempre as crianças brincaram com a chuva

corsários da terra enlameada

sujos de uma alegria

que ninguém despe

mas desfaz o tempo e tudo o que pensamos

da simplicidade das coisas.



Essa lama que vive no rosto da criança

é a única matéria do traço

é a limpidez do ar.



Rosa Alice Branco





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