Teias de aranha penduradas da razão
Teias de aranha penduradas da razão
Numa paisagem de cinza absorta;
Passou o furacão do amor,
E nenhum pássaro fica.
Tão pouco nenhuma folha,
Todas vão longe, como gotas de água
De um mar quando seca,
Quando não há lágrimas bastantes,
Porque alguém, cruel como um dia de sol na primavera,
Só com sua presença dividiu em dois um corpo.
Agora faz falta recolher os pedaços de prudência,
Ainda que sempre nos falte algum;
Recolher a vida vazia
E caminhar esperando que lentamente se encha,
Se é possível, outra vez, como antes,
De sonhos desconhecidos e desejos invisíveis.
Tu nada sabes disto,
Tu estás além, cruel como o dia,
O dia, essa luz que abraça apertadamente um triste muro,
Um muro, não compreendes?,
Um muro frente ao qual estou só.
Luís Cernuda
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