São peixes abissais,
cegos no mais fundo dos seus corpos,
com uma apaixonada cegueira que os cobre
como se fosse pele.
Deslocam-se fogosos por abismos e fossas,
submersos e despidos
de suas próprias escamas,
organismos exaustos e incolores
sabendo-se matérias em via de extinção.
Falo dos Desejos: dos sobreviventes
dos desejos.
Para quê o seu esqueleto, as suas barbatanas cortantes,
a sua gelatina branca, o seu existir
sinuoso e submarino
e os seus carapazões simulados.
São espécies distintas e inimigas
e cada uma esgota
o seu ardente reportório, a sua letal emergência
pois não se reproduzem em nenhuma
leve modalidade de cativeiro.
-Quando subir nas redes gotejantes
deixa-me, e que a luz
me dissolva e me apague.
Aurora Luque
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