Monday, March 6, 2006

mais uma traduçao caseira da minha Sexton


Estou no ringue
na cidade morta
e aperto os sapatos vermelhos.
Tudo o que estava calmo
é meu, o relógio com uma formiga a andar
os dedos dos pés alinhados como cães,
o fogão muito antes de ferver sapos,
a sala branca no inverno, muito antes das moscas,
a corça deitada no musgo muito antes da bala.
Eu aperto os sapatos vermelhos

Não são meus.
São da minha mãe.
E da mãe dela antes.
Entregues como relíquia familiar
mas escondidos como cartas vergonhosas.
A casa e a rua onde eles pertencem
estão escondidas e todas as mulheres, também,
estão escondidas

Todas as raparigas
que usaram sapatos vermelhos
cada uma embarcou um comboio que não pararia.
Estações voaram como pretendentes e não parariam.
Todas dançavam como truta num anzol.
Brincaram com elas.
Rasgaram as orelhas como alfinetes de segurança.
Os seus braços caíram e transformaram-se em chapéus.
As suas cabeças rolaram e cantaram pelas ruas.
E os seus pés - ó Deus, os seus pés no mercado -
os seus pés, aqueles dois escaravelhos, correram para a esquina.
Com certeza, exclamaram as pessoas,
com certeza que são mecânicos. Senão…

Mas os pés continuaram.
Os pés não conseguiam parar.
Estavam enroscados como uma cobra que vos vê.
Eram elásticos a puxar-se em dois.
Eram ilhas durante um terramoto.
Eram barcos a chocar e a afundar-se.
Eu e tu não importávamos.
Eles não podiam ouvir.
Eles não conseguiam parar.
O que eles fizeram era a dança da morte.

O que eles fizeram torná-los-ia.


Anne Sexton

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