Sou constantemente assaltado por memórias de sítios onde vivi, as casas e os bairros. Por exemplo, há um prédio vermelho de arenito, nos East Seventies, onde, no princípio da guerra, aluguei o meu primeiro apartamento em Nova Iorque. Era uma assoalhada atravancada de mobílias de sótão, um sofá e grandes cadeiras estofadas daquele veludo vermelho desbotado tão característico, que geralmente se associa aos dias de calor dentro de um comboio. As paredes eram de estuque, de uma cor de seiva de tabaco. Por toda a parte, até na casa de banho, havia gravuras de ruínas romanas acastanhadas pelo tempo. A única janela dava para uma escada de incêndio. Mesmo assim, ficava bastante eufórico quando sentia no bolso a chave para aquele apartamento tão esconso e sombrio; não deixava de ser um sítio meu, o primeiro, e tinha lá os meus livros e colecções de lápis por afiar, tudo o que precisava, julgava eu, para me tornar o escritor que queria ser.
Truman Capote
1 comment:
My kind of house.
Imagina-se um grande espaço exterior pelo lado direito da foto.
Dentro da casa, apenas aquilo que se precisa.
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