este ano é o ano internacional do grande Julio Cortazar
Objetos Perdidos
Por veredas de sueño y habitaciones sordas
tus rendidos veranos me acechan con sus cantos
Una cifra vigilante y sigilosa
va por los arrabales llamándome y llamándome
pero qué falta, dime, en la tarjeta diminuta
Dónde están tu nombre y tu calle y tu desvelo
si la cifra se mezcla con las letras del sueño
si solamente estás donde ya no te busco
Julio Cortázar
Friday, April 30, 2004
Thursday, April 29, 2004
Wednesday, April 28, 2004
Monday, April 26, 2004
Da fossa dos teus anos te tirei do lameiro
e mergulhei-te nas águas do meu Verão
lambi-te mãos cabelo corpo inteiro
jurei ser minha e tua até mais não.
Tu deste-me a volta. Gravaste a fogo brando
a tua marca na minha pele fina.
Renunciei a mim. E eis senão quando
me começo a afastar da minha sina
e de mim própria. A princípio ainda a recordação
um belo resto chamando por mim.
Mas nessa altura estava já dentro de ti
de mim escondida. Bem me escondeste então.
Perdi-me toda em ti, de mim nem cheiro:
e então cuspiste-me de corpo inteiro.
Ulla Hahn
imagem roubada com autorizaçao do a blue dog's Journal
e mergulhei-te nas águas do meu Verão
lambi-te mãos cabelo corpo inteiro
jurei ser minha e tua até mais não.
Tu deste-me a volta. Gravaste a fogo brando
a tua marca na minha pele fina.
Renunciei a mim. E eis senão quando
me começo a afastar da minha sina
e de mim própria. A princípio ainda a recordação
um belo resto chamando por mim.
Mas nessa altura estava já dentro de ti
de mim escondida. Bem me escondeste então.
Perdi-me toda em ti, de mim nem cheiro:
e então cuspiste-me de corpo inteiro.
Ulla Hahn
imagem roubada com autorizaçao do a blue dog's Journal
Sunday, April 25, 2004
Saturday, April 24, 2004
25 DE ABRIL SEMPRE
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
ZECA AFONSO
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
ZECA AFONSO
Friday, April 23, 2004
Hansel e Gretel estão vivos e de boa saúde
E a viver em Berlim
Ela é empregada num bar
Ele teve um papel num filme de Fassbinder
E à noite sentam-se a descansar
Bebendo Schnapps e gin
E ela diz: Hansel, dás mesmo cabo de mim
E ele diz: Gretel, quando queres és mesmo cabra
Ele diz: Desperdicei toda a minha vida com a nossa estúpida lenda
Quando o meu verdadeiro e único amor
Era a bruxa má
.
Ela disse: O que é a história?
E ele disse: A História é um anjo
Soprado para trás na direcção do futuro
Ele disse: A História é uma pilha de destroços
E o anjo quer voltar para trás e consertá-los
Reparar as coisas que foram quebradas
Mas há uma tempestade que sopra do Paraíso
E que não pára de empurrar o anjo
Para trás na direcção do futuro
E esta tempestade, esta tempestade
Chama-se
Progresso.
Laurie Anderson
E a viver em Berlim
Ela é empregada num bar
Ele teve um papel num filme de Fassbinder
E à noite sentam-se a descansar
Bebendo Schnapps e gin
E ela diz: Hansel, dás mesmo cabo de mim
E ele diz: Gretel, quando queres és mesmo cabra
Ele diz: Desperdicei toda a minha vida com a nossa estúpida lenda
Quando o meu verdadeiro e único amor
Era a bruxa má
.
Ela disse: O que é a história?
E ele disse: A História é um anjo
Soprado para trás na direcção do futuro
Ele disse: A História é uma pilha de destroços
E o anjo quer voltar para trás e consertá-los
Reparar as coisas que foram quebradas
Mas há uma tempestade que sopra do Paraíso
E que não pára de empurrar o anjo
Para trás na direcção do futuro
E esta tempestade, esta tempestade
Chama-se
Progresso.
Laurie Anderson
Thursday, April 22, 2004
Wednesday, April 21, 2004
hoje passei o dia a ouvir isto
Somewhere over the rainbow
Way up high,
There's a land that I heard of
Once in a lullaby.
Somewhere over the rainbow
Skies are blue,
And the dreams that you dare to dream
Really do come true.
Someday I'll wish upon a star
And wake up where the clouds are far
Behind me.
Where troubles melt like lemon drops
Away above the chimney tops
That's where you'll find me.
Somewhere over the rainbow
Bluebirds fly.
Birds fly over the rainbow.
Why then, oh why can't I?
If happy little bluebirds fly
Beyond the rainbow
Why, oh why can't I?
E.Y. Harburg
hoje passei o dia a ouvir isto
Somewhere over the rainbow
Way up high,
There's a land that I heard of
Once in a lullaby.
Somewhere over the rainbow
Skies are blue,
And the dreams that you dare to dream
Really do come true.
Someday I'll wish upon a star
And wake up where the clouds are far
Behind me.
Where troubles melt like lemon drops
Away above the chimney tops
That's where you'll find me.
Somewhere over the rainbow
Bluebirds fly.
Birds fly over the rainbow.
Why then, oh why can't I?
If happy little bluebirds fly
Beyond the rainbow
Why, oh why can't I?
E.Y. Harburg
hoje passei o dia a ouvir isto
Tuesday, April 20, 2004
Monday, April 19, 2004
no instante em que te explico
que as palavras estão sujas de cansaço
em que te falo do sabor da tristeza,
em cada sílaba irrompem sombras
do riso de criança que por vezes me invade os olhos
da inocência de menina que lia contos a leste do sol e a oeste da lua
e nessas noites sem rosto desisto do silêncio
e na urgência das palavras, dou-me por inteiro
eue
que as palavras estão sujas de cansaço
em que te falo do sabor da tristeza,
em cada sílaba irrompem sombras
do riso de criança que por vezes me invade os olhos
da inocência de menina que lia contos a leste do sol e a oeste da lua
e nessas noites sem rosto desisto do silêncio
e na urgência das palavras, dou-me por inteiro
eue
Friday, April 16, 2004
Não há mais sublime sedução do que saber esperar alguém.
Compor o corpo, os objectos em sua função, sejam eles
A boca, os olhos, ou os lábios. Treinar-se a respirar
Florescentemente. Sorrir pelo ângulo da malícia.
Aspergir de solução libidinal os corredores e a porta.
Velar as janelas com um suspiro próprio. Conceder
Às cortinas o dom de sombrear. Pegar então num
Objecto contundente e amaciá-lo com a cor. Rasgar
Num livro uma página estrategicamente aberta.
Entregar-se a espaços vacilantes. Ficar na dureza
Firme. Conter. Arrancar ao meu sexo de ler a palavra
Que te quer. Soprá-la para dentro de ti
até que a dor alegre recomece.
Maria Gabriela Llansol
Compor o corpo, os objectos em sua função, sejam eles
A boca, os olhos, ou os lábios. Treinar-se a respirar
Florescentemente. Sorrir pelo ângulo da malícia.
Aspergir de solução libidinal os corredores e a porta.
Velar as janelas com um suspiro próprio. Conceder
Às cortinas o dom de sombrear. Pegar então num
Objecto contundente e amaciá-lo com a cor. Rasgar
Num livro uma página estrategicamente aberta.
Entregar-se a espaços vacilantes. Ficar na dureza
Firme. Conter. Arrancar ao meu sexo de ler a palavra
Que te quer. Soprá-la para dentro de ti
até que a dor alegre recomece.
Maria Gabriela Llansol
Thursday, April 15, 2004
Nostalgia
Voices heard in fields of green
Their joy their calm and luxury
Are lost within the wanderings of my mind
I'm cutting branches from the trees
Shaped by years of memories
To exorcise their ghosts from inside of me
The sound of waves in a pool of water
I'm drowning in my nostalgia
David Sylvian
a pedido de muitas famílias mudei a foto que incomodava olhos mais sensíveis
Voices heard in fields of green
Their joy their calm and luxury
Are lost within the wanderings of my mind
I'm cutting branches from the trees
Shaped by years of memories
To exorcise their ghosts from inside of me
The sound of waves in a pool of water
I'm drowning in my nostalgia
David Sylvian
a pedido de muitas famílias mudei a foto que incomodava olhos mais sensíveis
Tuesday, April 13, 2004
A mão feliz
Há palavras que têm no poema uma função teatral
como as palavras com que se sai de cena.
É então que a mão pousa a caneta
pensando ser capaz de pegar na chávena
ou regar as plantas
nua.
A mão feliz está rodeada por palavras até à ponta dos dedos.
Sentamo-nos à mesa com elas
o nosso modo de amar depende delas
e os nossos beijos são a língua delirante do poema.
Depois da cena inútil da caneta pousada sobre a mesa
em que a mão sente que sofre um sofrimento
que não é de ninguém
um milagre acende o gesto que se perde na distância
de um "lá" que ninguém olha,
maravilhosa palavra com que saio do poema.
Rosa Alice Branco
Há palavras que têm no poema uma função teatral
como as palavras com que se sai de cena.
É então que a mão pousa a caneta
pensando ser capaz de pegar na chávena
ou regar as plantas
nua.
A mão feliz está rodeada por palavras até à ponta dos dedos.
Sentamo-nos à mesa com elas
o nosso modo de amar depende delas
e os nossos beijos são a língua delirante do poema.
Depois da cena inútil da caneta pousada sobre a mesa
em que a mão sente que sofre um sofrimento
que não é de ninguém
um milagre acende o gesto que se perde na distância
de um "lá" que ninguém olha,
maravilhosa palavra com que saio do poema.
Rosa Alice Branco
Monday, April 12, 2004
Wednesday, April 7, 2004
até para a semana:)
No One Knows I'm Gone
Hell above and Heaven below
All the trees are gone
The rain made such a lovely sound
To those who are six feet under ground
The leaves will bury every year
And no one knows I'm gone
Live me golden tell me dark
Hide from Graveyard John
The moon is full here every night
And I can bathe here in his light
The leaves will bury every year
And no one knows I'm gone
Tom Waits
No One Knows I'm Gone
Hell above and Heaven below
All the trees are gone
The rain made such a lovely sound
To those who are six feet under ground
The leaves will bury every year
And no one knows I'm gone
Live me golden tell me dark
Hide from Graveyard John
The moon is full here every night
And I can bathe here in his light
The leaves will bury every year
And no one knows I'm gone
Tom Waits
E como o céu está azul e hoje vou ver os Rádio Macau ao CAE aqui fica uma música que me lembra tempos bonitos
O Anzol
Ai eu já pensei,
Mandar pintar o céu em tons de azul,
Pra ser original
Só depois notei,
Que azul já ele é ouve alguém,
Que teve ideia igual
Eu não sei, se hei-de fugir,
Ou morder o anzol
Já não há, nada de novo aqui
Debaixo do sol
Já me persegui,
por becos e ruelas d'horror,
caminhos sem saída
até que me perdi
sozinha sem saber de que cor,
pintar a minha vida
Eu não sei, se hei-de fugir,
Ou morder o anzol
Já não há, nada de novo aqui
Debaixo do sol
Eu não sei, se hei-de fugir,
Ou morder o anzol
Já não há, nada de novo aqui
Debaixo do sol
O Anzol
Ai eu já pensei,
Mandar pintar o céu em tons de azul,
Pra ser original
Só depois notei,
Que azul já ele é ouve alguém,
Que teve ideia igual
Eu não sei, se hei-de fugir,
Ou morder o anzol
Já não há, nada de novo aqui
Debaixo do sol
Já me persegui,
por becos e ruelas d'horror,
caminhos sem saída
até que me perdi
sozinha sem saber de que cor,
pintar a minha vida
Eu não sei, se hei-de fugir,
Ou morder o anzol
Já não há, nada de novo aqui
Debaixo do sol
Eu não sei, se hei-de fugir,
Ou morder o anzol
Já não há, nada de novo aqui
Debaixo do sol
Tuesday, April 6, 2004
Este copo de água cheio de angústia
bebido no jardim tranquilo
árvores em flor
aragem, doce, leve, ondulante
mas nada faz esquecer esse fogo
lento e profundo
magma gerador de estrelas
oceano dos céus.
Livre nasce uma ilha
batida pelos ventos salgados que a embalam
e às suas praias irão dar os restos de aventuras
de meninos feitos piratas
remos partidos, bonecos destroçados
caixas hermeticamente fechadas
guardando sentimentos de caligrafia desenhada
e desenhos já descoloridos
e um pedaço de seda
embrulhado num relógio sem tempo para te amar.
Henrique Risques Pereira
bebido no jardim tranquilo
árvores em flor
aragem, doce, leve, ondulante
mas nada faz esquecer esse fogo
lento e profundo
magma gerador de estrelas
oceano dos céus.
Livre nasce uma ilha
batida pelos ventos salgados que a embalam
e às suas praias irão dar os restos de aventuras
de meninos feitos piratas
remos partidos, bonecos destroçados
caixas hermeticamente fechadas
guardando sentimentos de caligrafia desenhada
e desenhos já descoloridos
e um pedaço de seda
embrulhado num relógio sem tempo para te amar.
Henrique Risques Pereira
Monday, April 5, 2004
Sunday, April 4, 2004
Saturday, April 3, 2004
Escrevo-te onde a luz é feita de papoilas
Clareiras onde pássaros
piam ecos coagulados
Memorias transpiradas,
em vozes que desaguam no teu silêncio,
e o teu corpo forma-se no ar,
tecido de nuvens.
sinto-te nas frágeis linhas
da tua ausência
Sou margem do rio onde a tua poeira
se mistura com a fúria das sílabas.
Descubro o teu rosto e escrevo-te
na folhagem das nuvens
onde os corpos são
formas de vento
eue
Clareiras onde pássaros
piam ecos coagulados
Memorias transpiradas,
em vozes que desaguam no teu silêncio,
e o teu corpo forma-se no ar,
tecido de nuvens.
sinto-te nas frágeis linhas
da tua ausência
Sou margem do rio onde a tua poeira
se mistura com a fúria das sílabas.
Descubro o teu rosto e escrevo-te
na folhagem das nuvens
onde os corpos são
formas de vento
eue
Friday, April 2, 2004
Regresso
Sem mais nem menos
surgiu o passado,
corpo intranquilo
feito de sons semelhantes
aos rostos que amei,
universo donde me excluí,
mar desprovido de cais
na obliquidade dos contrastes.
Esta noite voltei à minha infância:
menina rosada de sonhos nos bolsos,
bailarina de corda na caixinha de som.
À infância regressa-se solitariamente,
subindo um rio sem margens,
até ao lugar em que a nascente
se confunde com o tempo
e o tempo se transforma em espanto.
Procuro, teimosamente,
o rasto da brisa
que me invade o corpo
e apenas sei que o sonho
é um risco inquietante,
quando a solidão tem rosto
e se conhece a posição das estrelas
no âmago das palavras.
Reinicio a infância
no esboço do poema
e circunscrevo o litoral
fragmentado do que sou.
Quem foi que descodificou
o céu no meu olhar
e me deixou na alma
um deus imaginado?
Quando o espaço do sonho é circular
como o tempo das cerejas,
ou da migração dos pássaros
que fendem o infinito,
inadiado é o rito da poesia.
Se eu fosse uma gaivota, dançaria
na proa dos veleiros
até à hipnose
de abraçar a maresia.
Graça Pires
Sem mais nem menos
surgiu o passado,
corpo intranquilo
feito de sons semelhantes
aos rostos que amei,
universo donde me excluí,
mar desprovido de cais
na obliquidade dos contrastes.
Esta noite voltei à minha infância:
menina rosada de sonhos nos bolsos,
bailarina de corda na caixinha de som.
À infância regressa-se solitariamente,
subindo um rio sem margens,
até ao lugar em que a nascente
se confunde com o tempo
e o tempo se transforma em espanto.
Procuro, teimosamente,
o rasto da brisa
que me invade o corpo
e apenas sei que o sonho
é um risco inquietante,
quando a solidão tem rosto
e se conhece a posição das estrelas
no âmago das palavras.
Reinicio a infância
no esboço do poema
e circunscrevo o litoral
fragmentado do que sou.
Quem foi que descodificou
o céu no meu olhar
e me deixou na alma
um deus imaginado?
Quando o espaço do sonho é circular
como o tempo das cerejas,
ou da migração dos pássaros
que fendem o infinito,
inadiado é o rito da poesia.
Se eu fosse uma gaivota, dançaria
na proa dos veleiros
até à hipnose
de abraçar a maresia.
Graça Pires
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