Sunday, November 7, 2004



Venho desta forma solicitar ao leitor

uma cabeça de martelo

para que por caridade

me sejam arrancados das costas

todos os pregos que o tempo aí me pregou



Pregos para pendurar retratos

talvez de coisas tristes

talvez de coisas alegres



Peço-lhe que o faça com extrema delicadeza

de modo a que um dia

me seja possível coçar as costas

sem estar preocupado

com crostas ou cicatrizes



Venho pois caro leitor

pedir-lhe depurada mestria

ao arrancar-me todos os pregos

que a vida me pregou nas costas



Pregos veja-se bem

que têm servido tão-somente

para pendurar quadros

talvez de naturezas mortas

talvez de paisagens sem título



Não leve a mal o pedido

trata-se de caridade devida

ou não fosse também o caro leitor

um desses pregos

que o destino me pregou nas costas

com irrepreensível precisão



antoni tàpies









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